Foram só alguns sonhos não realizados, na verdade, acovardados pelo despertador, aí eu acordei. Tal despertador não era de ferro, três ponteiros, alguns números grafados e não atirava sons pausados no ar, mas feito de imagens, várias delas, correndo uma sobre as outras num extenso senso memorial, e meus olhos quase vivos. Conversei com alguém pelo telefone sobre algumas coisas que quero fazer no ano novo. E pensei muito sobre tudo.
Ando temendo o mundo, evitando de uma forma inaceitável as pessoas que por perto querem estar de mim. Mas contraditoriamente me vem a pergunta: ‘quem está querendo ficar perto de mim?’. Resposta: ninguém. Dependendo da forma de interpretação, minha mãe e meu vizinho querem. Querem me levar à igreja, dizem que me faria bem se eu desabafasse com Cristo e com Ele, mas até mesmo de Deus tenho sentido medo, aí eu confesso, é Dele o maior medo que sinto. Não sei explicar a causa exata desse temor, se quer de uma forma concreta, mas um Homem que, teoricamente, pode definir quase tudo na minha vida e inclusive sobre o destino da minha partida, no mínimo merece tal respeito – existem duas espécies de respeito: o respeito por medo e o respeito por respeito, e está bem claro qual desses é o tipo de respeito que tenho por Deus. E essa oscilação entre tudo que falo me enjoa, numa hora digo com certeza, e enquanto me defendo me vêm tantas perguntas que paro e faço mais uma, ‘será que é isso mesmo que eu quero?’ e isso me deixa sem sentido algum, sem abrigo, só um grande e chato vazio. Queria gritar bem alto, mas também calado, só me bastava que alguém escutasse. É só mais um pedido de socorro não convencido que faço em mais uma noite que não durmo.
Preciso de algum lugar onde me seja possível o conforto, onde eu não precisasse sobreviver de mentiras ou amadores em atuação, mas isso é uma utopia. No momento, o único lugar onde parte desse meu desejo é possível é na minha cama, longe das pessoas, longe dos amigos, longe da minha família, é onde eu posso encenar o meu mundinho medíocre feito de cigarros, bebidas fortes e algumas tralhas de livros que nunca termino de ler. E, a minha mais recente companheira Árvore de Natal, as luzes nela me acalmam, consigo por poucas vezes, vezes bem animadoras, dormir quase tranqüilo. Não é bem uma tranqüilidade propriamente dita, mesmo assim, confortável e carinhosa o suficiente para me manter deitado. O presente foi dado a mim pela minha mãe, que no ato, disse que a minha casa precisava de mais alegria, e junto algumas notas como a necessidade de uma urgente limpeza sobre os móveis, de fazer a cama, comprar coisas saudáveis para pôr na geladeira e mais. O que ando comendo, isso é outra coisa que me intriga. Quando volto do trabalho a primeira coisa que faço é pegar uma cerveja na geladeira e preparar uma omelete e comer com arroz. Trabalho numa cozinha; faço vários pratos com receitas lindas; entro em casa e como omelete com arroz e cerveja. Ontem estudei esse caso e cheguei à conclusão de que só não faço um jantar decente porque é meio depreciativo. E evitar essas situações é muito importante pra mim.
Eu mesmo sou a minha própria maior ameaça. O que eu posso fazer contra mim é bem pior que qualquer outro estranho pode fazer. E esse meu medo anormal de Deus, talvez seja por eu saber que ele mora em mim, que é Ele quem me controla e me faz sentir e pensar tudo isso, por saber que eu sou Deus de mim mesmo. Em fim, não sei o que digo, só queria ser escutado, vez ou outra é até bom falar sozinho, mas precisa ser em voz alta, assim Deus escuta melhor.
Que tudo em mim sobreviva, caso não, que pelo menos renasça.
PR Lima
"eu sou Deus de mim mesmo"
ResponderExcluirMuito boa sacada... mas não há necessidade de medos, afinal, é o medo que nos tira a liberdade (será que li isso em algum lugar?) Enfim, não se deprima, viva... viva...
a propósito, se a sua profissão é culinária, esse omelete com arroz e cerveja nao deve ser tão simples assim, deve ser bem melhor que o meu! ;)
PS - Se tivesse sobrado mais de uma caixinha de cigarro de metal, eu ia pedir uma de presente! XDDD (Cara de Pau ON)
Me identifiquei com todo o texto, todo mesmo, sinto exatamente as mesmas coisas e farei o mesmo pedido de ano novo..
ResponderExcluirBeeijos1