11 dezembro 2009

Medo de Deus

Foram só alguns sonhos não realizados, na verdade, acovardados pelo despertador, aí eu acordei. Tal despertador não era de ferro, três ponteiros, alguns números grafados e não atirava sons pausados no ar, mas feito de imagens, várias delas, correndo uma sobre as outras num extenso senso memorial, e meus olhos quase vivos. Conversei com alguém pelo telefone sobre algumas coisas que quero fazer no ano novo. E pensei muito sobre tudo.

Ando temendo o mundo, evitando de uma forma inaceitável as pessoas que por perto querem estar de mim. Mas contraditoriamente me vem a pergunta: ‘quem está querendo ficar perto de mim?’. Resposta: ninguém. Dependendo da forma de interpretação, minha mãe e meu vizinho querem. Querem me levar à igreja, dizem que me faria bem se eu desabafasse com Cristo e com Ele, mas até mesmo de Deus tenho sentido medo, aí eu confesso, é Dele o maior medo que sinto. Não sei explicar a causa exata desse temor, se quer de uma forma concreta, mas um Homem que, teoricamente, pode definir quase tudo na minha vida e inclusive sobre o destino da minha partida, no mínimo merece tal respeito – existem duas espécies de respeito: o respeito por medo e o respeito por respeito, e está bem claro qual desses é o tipo de respeito que tenho por Deus. E essa oscilação entre tudo que falo me enjoa, numa hora digo com certeza, e enquanto me defendo me vêm tantas perguntas que paro e faço mais uma, ‘será que é isso mesmo que eu quero?’ e isso me deixa sem sentido algum, sem abrigo, só um grande e chato vazio. Queria gritar bem alto, mas também calado, só me bastava que alguém escutasse. É só mais um pedido de socorro não convencido que faço em mais uma noite que não durmo.

Preciso de algum lugar onde me seja possível o conforto, onde eu não precisasse sobreviver de mentiras ou amadores em atuação, mas isso é uma utopia. No momento, o único lugar onde parte desse meu desejo é possível é na minha cama, longe das pessoas, longe dos amigos, longe da minha família, é onde eu posso encenar o meu mundinho medíocre feito de cigarros, bebidas fortes e algumas tralhas de livros que nunca termino de ler. E, a minha mais recente companheira Árvore de Natal, as luzes nela me acalmam, consigo por poucas vezes, vezes bem animadoras, dormir quase tranqüilo. Não é bem uma tranqüilidade propriamente dita, mesmo assim, confortável e carinhosa o suficiente para me manter deitado. O presente foi dado a mim pela minha mãe, que no ato, disse que a minha casa precisava de mais alegria, e junto algumas notas como a necessidade de uma urgente limpeza sobre os móveis, de fazer a cama, comprar coisas saudáveis para pôr na geladeira e mais. O que ando comendo, isso é outra coisa que me intriga. Quando volto do trabalho a primeira coisa que faço é pegar uma cerveja na geladeira e preparar uma omelete e comer com arroz. Trabalho numa cozinha; faço vários pratos com receitas lindas; entro em casa e como omelete com arroz e cerveja. Ontem estudei esse caso e cheguei à conclusão de que só não faço um jantar decente porque é meio depreciativo. E evitar essas situações é muito importante pra mim.

Eu mesmo sou a minha própria maior ameaça. O que eu posso fazer contra mim é bem pior que qualquer outro estranho pode fazer. E esse meu medo anormal de Deus, talvez seja por eu saber que ele mora em mim, que é Ele quem me controla e me faz sentir e pensar tudo isso, por saber que eu sou Deus de mim mesmo. Em fim, não sei o que digo, só queria ser escutado, vez ou outra é até bom falar sozinho, mas precisa ser em voz alta, assim Deus escuta melhor.

Que tudo em mim sobreviva, caso não, que pelo menos renasça.

PR Lima

2 comentários:

  1. "eu sou Deus de mim mesmo"

    Muito boa sacada... mas não há necessidade de medos, afinal, é o medo que nos tira a liberdade (será que li isso em algum lugar?) Enfim, não se deprima, viva... viva...

    a propósito, se a sua profissão é culinária, esse omelete com arroz e cerveja nao deve ser tão simples assim, deve ser bem melhor que o meu! ;)


    PS - Se tivesse sobrado mais de uma caixinha de cigarro de metal, eu ia pedir uma de presente! XDDD (Cara de Pau ON)

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  2. Me identifiquei com todo o texto, todo mesmo, sinto exatamente as mesmas coisas e farei o mesmo pedido de ano novo..

    Beeijos1

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