13 outubro 2009

Com Licença

A cada sentimento em mim expresso, há um Eu distinto deste de agora, daquele que virá e também daquele que faleceu há poucos instantes. Todos os dias eu repito os mesmos gestos: nasço na manhã calada de passos de homens e mulheres; cresço um pouco por volta da tarde, amadureço no belisco da noite sobre o sol salgado, adoeço com as estrelas e finalmente morro fálico sobre a lua cheia. Cala-se na bêbada madrugada, meu perfume velho.
Na pequena fisgada do incenso, que por graça ainda incendeia meu passo aos céus, confraternizo a minha vida, o meu martírio e minha órbita. Brindo o vinho, o sangue e os ossos. Da frágil felicidade entorpecida e folgada que vela meus prantos, abençoa, ela, o falecer do pouco da minha criança.
Eu morro sem deixar cartas, sobra apenas a minha silhueta indagada pelos meus fantasmas, estes, deste Eu que já irá partir.
Peço licença, daqui a pouco renasço e volto para os teus braços.

PR Lima

7 comentários:

  1. Maravilhoso texto... uma visita ao mais íntimo do EU humano que sempre se despede, se encontra, se mata e busca a redenção!

    parabens!

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  2. "tem que morrer pra germinar"
    Se for pra morrer, que nasça em braços aveludados.

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  3. "Peço licença, daqui a pouco renasço e volto para os teus braços."

    eu tatuaria isso na minhas costas se a agulha não perdesse meu sangue...
    e nossa tu me encontrou!!!
    E vou te seguir no twitter também bjus

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  4. acho que o tom dos textos constrasta com o pano de fundo do blog. sonhei contigo por esses dias e com a tua mãe, um dia te conto.

    'morro fálico' soa MUITO pornográfico, apesar de ter o tom de quem morre bravo (eu levei nesse sentido). e andei pensando na vida (de novo) por esses tempos, e até chapado com o rosito, acho que sei lá, somos jovens e temos todo o tempo do mundo.

    cuide-se, morra mas renasça. viva.

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  5. "Para nascer de novo, é preciso morrer primeiro."

    Muito lindo o texto!!

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  6. daqueles textos perfeitos, que após cada palavra lida vem uma + perfeita e que te deixam sem palavras.
    sem palavras, rapaz. ah! "parabéns pelo texto". rs

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