Capítulo Dois – Insônia (parte I)
Costumo dizer que a convivência com a tristeza é o ponto de partida para a sobrevivência.
Gabriela condensava suas perguntas íntimas ao redor do parque, mais se perdia enquanto via seus pensamentos enevoando sua consciência.
Bem no centro, perto do chafariz, um sorvete derretia sob o sol que machucava o piso enjoado do parque. Para quem reparava com olhos e analisava o sorvete com carência afetiva, tudo fazia sentido: a delicada e saliente forma com que a febril fome de alegria toma posse de teus medos é quase tão deliciosa quanto uma úmida penetração de um sexo. Ao despertar de uma solidão incontrolável e debruçar-se sobre um terreno desconhecido, inexplorável e inabitável, como agir? Pior que isto, como sobreviver e escapar? Como o tal, ficar num lugar onde não se podia estar, onde suporte não te é possível a tolerância, te faz um sorvete sublimando, corre o chão com suas lástimas, resseca e aos poucos vira pó. Porém, tristeza é algo que vicia, que te torna amante, tua perna e teus braços, passas a admirar-la com o tempo, logo, não desejas mais sair de seu mundo. Mesmo que encares a face de teus motivos, o inevitável suicídio não te é mais tão surpreendente.
Na noite deste mesmo dia, uma silhueta estava imóvel na porta do quarto, olhava fixamente para Gabriela, como se dissesse a ela para que a seguisse, um odor repulso tangia seu corpo. Levantou-se, atravessou a porta e seguiu aquele perfume que imitava a flagrância de Plínio, calçou seus passos no corredor adormecido – estranhamente percorria lembranças sem saturação, como em uma série de fotografias passadas rapidamente uma após a outra, pelos seus ouvidos. Aquilo tudo a assustava, e quase como um flerte, podia imaginar o que a aguardava no fim daquela trilha de perfume denso, silenciosamente Gabriela pontuou-se na porta para a cozinha. Por enquanto, ela se manteve quieta e calma, o problema mesmo foi o depois do enquanto. Esbugalhados, seus olhos secava a aparição de um ser tristonho, com uma postura cansativa e fantasmagórica, com o olhar tão soberbo e sádico quanto à daquela indesejada (ou muito desejada por alguns), mãos trêmulas e que lentamente erguia para guiar os olhos de Gabriela para algum ponto da cozinha, gerando uma intensa salivação na boca, ela sentiu sua pele desabrochando várias vezes, quando seus olhos partiram do fantasma para o canto onde ele apontava. Plínio sorriu para Gabriela.
Continua
Gabriela condensava suas perguntas íntimas ao redor do parque, mais se perdia enquanto via seus pensamentos enevoando sua consciência.
Bem no centro, perto do chafariz, um sorvete derretia sob o sol que machucava o piso enjoado do parque. Para quem reparava com olhos e analisava o sorvete com carência afetiva, tudo fazia sentido: a delicada e saliente forma com que a febril fome de alegria toma posse de teus medos é quase tão deliciosa quanto uma úmida penetração de um sexo. Ao despertar de uma solidão incontrolável e debruçar-se sobre um terreno desconhecido, inexplorável e inabitável, como agir? Pior que isto, como sobreviver e escapar? Como o tal, ficar num lugar onde não se podia estar, onde suporte não te é possível a tolerância, te faz um sorvete sublimando, corre o chão com suas lástimas, resseca e aos poucos vira pó. Porém, tristeza é algo que vicia, que te torna amante, tua perna e teus braços, passas a admirar-la com o tempo, logo, não desejas mais sair de seu mundo. Mesmo que encares a face de teus motivos, o inevitável suicídio não te é mais tão surpreendente.
Na noite deste mesmo dia, uma silhueta estava imóvel na porta do quarto, olhava fixamente para Gabriela, como se dissesse a ela para que a seguisse, um odor repulso tangia seu corpo. Levantou-se, atravessou a porta e seguiu aquele perfume que imitava a flagrância de Plínio, calçou seus passos no corredor adormecido – estranhamente percorria lembranças sem saturação, como em uma série de fotografias passadas rapidamente uma após a outra, pelos seus ouvidos. Aquilo tudo a assustava, e quase como um flerte, podia imaginar o que a aguardava no fim daquela trilha de perfume denso, silenciosamente Gabriela pontuou-se na porta para a cozinha. Por enquanto, ela se manteve quieta e calma, o problema mesmo foi o depois do enquanto. Esbugalhados, seus olhos secava a aparição de um ser tristonho, com uma postura cansativa e fantasmagórica, com o olhar tão soberbo e sádico quanto à daquela indesejada (ou muito desejada por alguns), mãos trêmulas e que lentamente erguia para guiar os olhos de Gabriela para algum ponto da cozinha, gerando uma intensa salivação na boca, ela sentiu sua pele desabrochando várias vezes, quando seus olhos partiram do fantasma para o canto onde ele apontava. Plínio sorriu para Gabriela.
Continua
Muito boa mesmo sua crônica, rapaz.
ResponderExcluirLendo seu texto, tirei algumas conclusões:
- A própria convivência com a tristeza já deixa de ser solidão;
- A solidão é amiga, irmã de todas as horas. Já até escrevi algo sobre isso no meu blog. Acho que a solidão é a nossa companheira maior.
- Concordo quando diz que conviver com a tristeza é ponto de partida para a sobrevivência.
- Gabriela odeia ser solitária e quer urgentemente amor.
- Plínio só ama sua solidão. Certo?
hum, muito interessante, to be continued....
ResponderExcluirbeijaooooooooooooo