22 junho 2009

Minhas lembranças, para ti, minha honrosa vida de sofrimento.

Sei que nesses últimos dias minhas lembranças andam sonolentas demais, que a fadiga, ainda sonolenta, me faz deitar num tropeço nas minhas angústias, cuja nestas ainda me encontro afogado. Sem ajuda, sem conforto, minha rotina costurada na nesga da insuportável vontade de explodir, de me isolar do mundo inteiro.
Poderia afirmar banalidades, tais como a que digo que posso viver apenas das tuas lembranças, dos dias bons que agora sei que jamais irão voltar. Ser um museu com pernas e braços, com mãos e pensamentos, podendo migrar do frio para a calorenta solidão, podendo marcar meus passos em pontas de lápis e nas faces dos papiros. Indaga-me algo que sugira que tudo que faço é errado. É o teu maior dom, sendo ou não sano ou pelo menos ingênuo, continuo sendo uma larva, eu ainda não descobri como levantar as asas que felizmente não tenho, isso me traz a tranqüilidade que acoberta minha ansiedade, serei uma criatura desasada por quanto durar meu sofrimento, que digo, por um lado é delicioso, por outro é incompreensível. São coisas belas do amor: sofrimento, dor, martírios e boemias. Sinônimo de amar é sofrer, ou para os mais otimistas, o amor é o mais próximo sentimento do ódio.
Um pequeno risco sobre minhas idéias:
Odiar é lindo, talvez uma das mais puras ações da cardiologia humana – de onde vêm os sentimentos? Do coração ou da sensação? Do consciente ou do subconsciente? Inconsciente? De onde? Como produzir um sentimento? Queria te odiar, pelo menos quando quisesse, eu poderia voltar a te amar facilmente, mas sei que prefiro sofrer.
Nas noites em que durmo onde por várias vezes já desfrutamos do sabor um do outro, desejo te encontrar quentinho, te procuro virando de um lado para outro, na esperança de me redimir nos teus braços e me encolher no teu ombro, pacificando a minha alma de todas as inquietudes. Delirando meus lábios, desfrutar mais uma vez do sabor das infinitas cores desconhecidas por qualquer ser deste mundo, daquele oco poço de ares e perfumes, da vontade de flutuar em teus abraços, de dormir com os teus beijos. Queria por mais uma única vez, me esconder no teu peito, refletir aí que me sinto seguro de tudo, que é o meu céu dentro do meu mundinho chamado ‘Tu’. Ainda sobram prantos em lugares que tento te encontrar, nos meus dias normais, não sinto vontade de abrir meus olhos, porque enquanto os mantenho bem negros, posso ainda escutar tua voz, posso ainda enganar meu olfato e sentir a tua flor, mentir para as minhas mãos e dizer que elas estão tocando em tua pele. Teus retratos, tuas palavras e tuas vertigens ainda passeiam por mim, ainda conversam comigo, ainda me dão carinho, ainda me dizem ‘nós te amamos’, elas não me deixam dormir sozinho. Todas elas ainda estão aqui, comigo, são minha utopia.
Eu e minhas lembranças, andamos ligados de forma umbilical, ela é meu alimento, meus sais e minha sobrevivência. Sou louco por te amar dessas e de outras formas todos os dias, de me lembrar da tua presença em cada intersecção de passos. E tu, nem sabes que existo, não mais. E isso não é pior da loucura, a mais esquizofrênica das minhas idéias é a de que tudo que não existe nesse mundo é perfeito. É puro e fértil, o mais doce dos frutos. Já larguei pelos marcos dos meus passos, pequenos borrifos de minhas palavras, e rezo todos os dias para que tu as encontres e sigas até o fim, porque não me importa o tempo, não me importa a eternidade e não temo a morte, estarei te esperando por noites e dias, rareados sois ou chuvosas tardes de domingo a domingo, não temo o meu destino, estarei te esperando até o soprar da minha vela. Mesmo que jamais nos encontremos, a honra de ter sofrido por ti e não por outro, será a marca da minha vitória neste mundo, e partirei com as feridas deixadas por ti em meu peito.
De qualquer modo, meu amor, sofro porque quero, porque sofrer é belo, é amar. E amar é ser vivo. São coisas da vida. Não há o que mudar.


PR.

7 comentários:

  1. "Eu e minhas lembranças, andamos ligados de forma umbilical, ela é meu alimento, meus sais e minha sobrevivência."

    Engraçado, sabe quando você lê uma coisa que te define de uma maneira tão absurda a ponto de você jurar que foi você mesmo que escreveu? Pois é, esse é o sentimento que me abraçou quando li esse post, e olha só ele também fala de um assunto batido no meu blog e até mesmo da última postagem... Nossa eu falo de mais, bem adorei o blog e é.

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    Suicídio.

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  3. A Dona Socorro viajou para longe.

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  4. Rapaz... essa mistura de palavras intensas com ares de depressão, melancolia, tragédia, raiva, mágoa, tristeza, tudo junto formam uma grande elegia a la Clarice Lispector.
    Nesse texto, você parece tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, sabe?
    O texto tem tom de grito em voz de súplica...

    Dá alívio escrever um texto assim ou não?


    * Adorei- como sempre. \o/

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