31 março 2009

Preâmbulo de um Suicídio


Capítulo UmO Prefácio do Preâmbulo

Em uma cadeira de ferro de aparente ferrugem que dava sede, Paulo ressoou algumas lágrimas, lágrimas que ousou pensar no passado que jamais tornaria a plantar em seu rosto, aquela mesma contração nos lábios, o mesmo tremer das bochechas e as mesmas dores no queixo do antes-de-chorar. Clamou várias vezes por ajuda, mas bem mais parecia gritar em um sonho onde ninguém entendia a sua língua e nem menos tinha voz. Gritava dentro de si de uma forma a sufocar o seu pulmão, como quando se tenta pronunciar alguma palavra e a ronquidão impede a vibração das cordas vocais e a passagem de ar. O que estava prestes a ocorrer era magnífico. Paulo recordava da experiência nas fracassadas tentativas de suicídio no passado, GN havia concebido o valor que ele necessitava tanto em sentir, havia lhe dado a clemência do bem estar em viver, mas nos últimos trinta e alguns dias, o mesmo que lhe ofertou o sabor pela vida, tomou de suas mãos o que tanto valorizava e acredita ser pela eternidade. Freqüentemente Paulo meditava sem intenção sobre os planos que construiu nos berços de GN, sobre o castelo que com cuidado arquitetou nas mãos dele, almejos que no decorrer da sua relação com o mesmo tornavam-se maiores e engordavam alimentados com as felicitações que GN lhe causava. E quando pensou estar correndo na direção certa, perdeu o equilíbrio tropeçando num galho de fissura esplendida chamada Decepção. Tudo havia desmoronado em sua frente, e um pouco mais para baixo, todo seu chão tornou-se sal e despertou a dor das incisões nos pés que, de tanto andar em nuvens, havia esquecido que ainda estavam ali. Toda aquela tristeza, mágoa e ódio que agora era a prova crua de um temor que o assombrava há algumas temporadas, aquele passado de boemias e cigarros, apenas havia adormecido. E agora, estava de volta, presente nos seus pequenos olhinhos tristes e avermelhados para torná-lo outra vez aquele garoto que fechou as janelas, trancou as portas e partiu seus pulsos em dois. Paulo dali a pouco, estaria se lançando em um “O” de um fio de mouse velho amarrado num pedaço de madeira que sustentava o telhado de sua casa. Paulo, dali a pouco, estria frio e finalmente pararia de chorar – o que ele odiava por sempre logo após causar dor de cabeça insuportável.

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