Capítulo Um – O Prefácio do Preâmbulo
Em uma cadeira de ferro de aparente ferrugem que dava sede, Paulo ressoou algumas lágrimas, lágrimas que ousou pensar no passado que jamais tornaria a plantar em seu rosto, aquela mesma contração nos lábios, o mesmo tremer das bochechas e as mesmas dores no queixo do antes-de-chorar. Clamou várias vezes por ajuda, mas bem mais parecia gritar em um sonho onde ninguém entendia a sua língua e nem menos tinha voz. Gritava dentro de si de uma forma a sufocar o seu pulmão, como quando se tenta pronunciar alguma palavra e a ronquidão impede a vibração das cordas vocais e a passagem de ar. O que estava prestes a ocorrer era magnífico. Paulo recordava da experiência nas fracassadas tentativas de suicídio no passado, GN havia concebido o valor que ele necessitava tanto em sentir, havia lhe dado a clemência do bem estar em viver, mas nos últimos trinta e alguns dias, o mesmo que lhe ofertou o sabor pela vida, tomou de suas mãos o que tanto valorizava e acredita ser pela eternidade. Freqüentemente Paulo meditava sem intenção sobre os planos que construiu nos berços de GN, sobre o castelo que com cuidado arquitetou nas mãos dele, almejos que no decorrer da sua relação com o mesmo tornavam-se maiores e engordavam alimentados com as felicitações que GN lhe causava. E quando pensou estar correndo na direção certa, perdeu o equilíbrio tropeçando num galho de fissura esplendida chamada Decepção. Tudo havia desmoronado em sua frente, e um pouco mais para baixo, todo seu chão tornou-se sal e despertou a dor das incisões nos pés que, de tanto andar em nuvens, havia esquecido que ainda estavam ali. Toda aquela tristeza, mágoa e ódio que agora era a prova crua de um temor que o assombrava há algumas temporadas, aquele passado de boemias e cigarros, apenas havia adormecido. E agora, estava de volta, presente nos seus pequenos olhinhos tristes e avermelhados para torná-lo outra vez aquele garoto que fechou as janelas, trancou as portas e partiu seus pulsos em dois. Paulo dali a pouco, estaria se lançando em um “O” de um fio de mouse velho amarrado num pedaço de madeira que sustentava o telhado de sua casa. Paulo, dali a pouco, estria frio e finalmente pararia de chorar – o que ele odiava por sempre logo após causar dor de cabeça insuportável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário